A Magia do Cerrado: O Reino Natural e Seus Mistérios

No coração do Brasil, o Cerrado pulsa como um dos biomas mais ricos do mundo. Vamos explorar os segredos desta terra: as plantas adaptadas à seca, os animais que dominam as savanas, um universo místico, enraizado em lendas e práticas ancestrais que homenageiam a força dessa natureza única.

É conhecido por sua impressionante biodiversidade e importância ecológica. Estendendo-se por aproximadamente 2 milhões de quilômetros quadrados, atravessa 11 estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal, e é considerada a segunda maior formação vegetal da América do Sul, atrás apenas da Amazônia.

Essa variedade geográfica faz com que o Cerrado seja classificado como uma das savanas mais biodiversas do mundo. Cerca de 12 mil espécies de plantas nativas são encontradas ali, muitas delas endêmicas, ou seja, que só existem nessa região.

A vegetação, adaptada ao clima tropical sazonal, é resistente ao fogo e à seca, com árvores de troncos retorcidos, folhas grossas e raízes profundas, que permitem o acesso à água subterrânea. Podemos citar como ótimos exemplos o Ipê, que floresce em plena seca, e o pequi, uma fruta tradicional rica em óleos benéficos.

Na fauna, o Cerrado abriga espécies emblemáticas e ameaçadas, como o lobo-guará, um canídeo de pernas longas e dieta variada que inclui frutas, e o tamanduá-bandeira, que usa suas garras poderosas para se alimentar de cupins e formigas. O bioma também é o lar do raro tatu-canastra, o maior tatu do mundo, cujas escavações ajudam na manutenção do ecossistema.

A região é também lar de uma impressionante diversidade de aves, com mais de 800 espécies catalogadas. Entre elas, destaca-se o carcará, uma ave de rapina conhecida por sua adaptabilidade e hábitos oportunistas, frequentemente vista patrulhando os campos abertos em busca de presas.

tatu
tamanduá
lobo-guara

Peça-chave para o ciclo da água no Brasil, o bioma abriga as nascentes de três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul: a do São Francisco, a do Paraná-Paraguai e a do Tocantins-Araguaia, o que lhe confere o título de “berço das águas”. Essa função vital não só garante o abastecimento de água para milhões de pessoas, como também sustenta a rica biodiversidade local, desempenhando um papel crucial na conservação de recursos hídricos e na regulação do clima global.

Vista de drone do Rio Araguaia na divisa dos estados do Mato Grosso e Goiás © Andre Dib

O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, criado em 1961, é um dos principais projetos de conservação ambiental no Cerrado. A área protege mais de 240 mil hectares de ecossistemas naturais e é reconhecida como Patrimônio Mundial pela UNESCO. Além de promover a preservação da fauna e flora, o parque também oferece atividades de ecoturismo, como trilhas, cachoeiras e observação da vida selvagem. O turismo sustentável é uma das principais fontes de renda para as comunidades locais, e os guias turísticos são muitas vezes capacitados para promover a conservação ambiental.

A Chapada dos Veadeiros está localizada em um dos terrenos mais antigos da Terra, com rochas que datam de até 1,8 bilhão de anos. A região é especialmente rica em cristais de quartzo, que se formam por processos geológicos ao longo de milhões de anos. Esse quartzo foi, no passado, explorado economicamente, mas hoje tem um papel mais importante no ecoturismo e nas práticas espirituais.

Muitos visitantes relatam sentir uma “vibração” única ao andar pelos vales e trilhas da Chapada, e é comum encontrar grupos que viajam para lá especificamente para explorar essa faceta energética e mística.

Algumas lendas locais reforçam a mística da região, como a história de que os cristais de quartzo estão ligados a antigas civilizações, e que eles são fragmentos de uma sabedoria perdida, guardiões da terra e de seus segredos. Existe a crença de que a energia dos cristais poderia ser utilizada para curar a terra e as águas da Chapada, funcionando como uma fonte de equilíbrio ecológico.

A população do Cerrado é composta por comunidades tradicionais que mantêm um forte vínculo com a terra e com suas práticas ancestrais. Entre essas comunidades estão os agricultores familiares, os quilombolas, os geraizeiros, as quebradeiras de coco babaçu e os povos indígenas, todos com uma relação profunda de respeito ao meio ambiente e um forte senso comunitário.

O Cerrado abriga 216 terras indígenas (TIs), representando 83 diferentes etnias. Embora essa diversidade seja impressionante, a maioria dessas terras ainda não passou por processos de regularização fundiária.

Entre as etnias que habitam o Cerrado, destacam-se os Xavante, Krahô, Karajá e Awá, povos que mantêm suas tradições, incluindo práticas agrícolas sustentáveis e uma relação íntima com a biodiversidade local.

No Brasil, existem cerca de 1700 comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Palmares, sendo que aproximadamente 200 dessas comunidades tiveram suas terras tituladas até 2012, de acordo com o INCRA.

A Comunidade Kalunga, situada na região, é uma das maiores comunidades quilombolas do Brasil. Além de sua rica herança cultural, os Kalunga também participam de projetos de preservação e manejo sustentável do Cerrado, promovendo o uso consciente dos recursos naturais por meio da agricultura tradicional e ecoturismo de base comunitária. A comunidade oferece vivências turísticas que conectam os visitantes à natureza, à cultura local e às práticas de conservação.

Deu para ter uma ideia da magnitude que é esse bioma que nos abriga? A jornada pelo Cerrado é mais do que uma simples visita; é uma experiência transformadora que nos lembra da riqueza que a natureza nos oferece e da responsabilidade que temos em cuidar desse patrimônio precioso.